Tempo, tempo, tempo...
Era fim de tarde, um som percorreu
o vento e entrou pela minha janela... “Tempo, tempo, tempo, tempo. Compositor
dos destinos, tambor de todos os ritmos. Por seres tão inventivo e pareceres
contínuo. És um dos deuses mais lindos”. Os versos de Caetano Veloso me fizeram pensar
sobre o tempo. Como fazer quando o tempo precisa ser interrompido por causa de
um vírus, Cometa Sinistro, que percorreu o planeta?
Quando o amor precisou esperar,
casamentos foram remarcados, trabalhos suspensos, atividades físicas, boa desculpa para quem sempre quis adiar. Aulas Presenciais? Nem pensar. A corrida para
as novas tecnologias deixou muita gente preocupada, os desavisados tiveram de correr contra o tempo. Como proteger a todos de uma “ameaça” invisível? O
exílio involuntário de pais e avós, de portadores de doenças crônicas, pessoas
do grupo de risco. Em todos os cantos do mundo... Em terras tupiniquis, nem
mesmo os índios podiam estar seguros. Só a Morte não pôde esperar!
Ruas vazias, como a muito não se
via. Os animais não se convenceram e alguns até precisaram conferir se a
espécie humana ainda estava viva. A natureza é mesmo poderosa, bastaram alguns dias
para a poluição do ar diminuir, o mesmo ar tão em falta nestes tempos, mas quem está realmente preocupado com o Crédito de Carbono? Com
a Carta da Terra? Com a Carta do Cacique Seattle? Com o Aquecimento Global? As
palavras do jornalista, ambientalista, vice-presidente dos Estados Unidos, no
final do século XX, Al Gore, infelizmente, não ecoaram nos “ouvidos moucos”. Muitos
fizeram piadas... uma maneira divertida de desconstruir coisas sérias.
Assim que a ameaça for
neutralizada, o homem será o que sempre foi, o predador mais voraz do planeta.
Ou será que o tempo, esse fiel escudeiro, vai ser capaz de aplacar a fúria
consumista e egocêntrica do mundo? É bem possível que a música que entrou pela
minha janela, tenha trazido algo mais para mim. O meu ser parece impregnado com
a ironia machadiana, ou quem sabe “O Desconcerto do Mundo”, que tanto preocupou
Camões, tenha se materializado neste
tempo? O céu e o inferno de Dante nunca fizeram tanto sentido.
Tempo... era o que todos
queriam... um pouco mais de tempo com a família, com os amigos, com os filhos,
com os pais... com os amores. A eles, tudo foi negado, a eles, todas as
homenagens nunca serão completas, faltará sempre a despedida, enquanto isso, muitos arriscam a vida, colocam a do outro em
risco e não se importam... afinal, precisam viver. Têm pressa de viver. Assumem
para si o risco, porque os outros... ah...são os outros.
Caro leitor, eu avisei que o
vento trouxe algo mais, e antes que esta crônica ficasse muito mórbida, “Uma
flor nasceu na rua, é feia, mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e
o ódio”. E aqui estou, mais uma vez a citar Drummond, porque para ele, assim
como para mim, uma apaixonada pela Literatura, pela Música, pela Arte, os dias
escuros ficarão para trás. Não há como ser igual, depois que o caos se
estabelece. Por certo, seremos novamente
infectados com o vírus do amor... Aos médicos e profissionais da saúde,
responsáveis por tantos milagres, imensurável gratidão, porque sempre é, e sempre será: tempo de
esperançar!
Maria
Cristina A. Biagio
Maravilhosa!
ResponderExcluirAmei.