sexta-feira, 10 de julho de 2020

Crônica - Quando a inspiração vem , é impossível resistir.


                                              Tempo, tempo, tempo...

Era fim de tarde, um som percorreu o vento e entrou pela minha janela... “Tempo, tempo, tempo, tempo. Compositor dos destinos, tambor de todos os ritmos. Por seres tão inventivo e pareceres contínuo. És um dos deuses mais lindos”.  Os versos de Caetano Veloso me fizeram pensar sobre o tempo. Como fazer quando o tempo precisa ser interrompido por causa de um vírus, Cometa Sinistro, que percorreu o planeta?
Quando o amor precisou esperar, casamentos foram remarcados, trabalhos suspensos, atividades físicas,  boa desculpa para quem sempre quis adiar. Aulas Presenciais? Nem pensar.  A corrida para as novas tecnologias deixou muita gente preocupada, os desavisados tiveram de correr contra o tempo. Como proteger a todos de uma “ameaça” invisível? O exílio involuntário de pais e avós, de portadores de doenças crônicas, pessoas do grupo de risco. Em todos os cantos do mundo... Em terras tupiniquis, nem mesmo os índios podiam estar seguros. Só a Morte não pôde esperar!
Ruas vazias, como a muito não se via. Os animais não se convenceram e alguns até precisaram conferir se a espécie humana ainda estava viva. A natureza é mesmo poderosa, bastaram alguns dias para a poluição do ar  diminuir, o mesmo ar tão em falta nestes tempos, mas quem está realmente preocupado com o Crédito de Carbono? Com a Carta da Terra? Com a Carta do Cacique Seattle? Com o Aquecimento Global? As palavras do jornalista, ambientalista, vice-presidente dos Estados Unidos, no final do século XX, Al Gore, infelizmente, não ecoaram nos “ouvidos moucos”. Muitos fizeram piadas... uma maneira divertida de desconstruir coisas sérias.  
Assim que a ameaça for neutralizada, o homem será o que sempre foi, o predador mais voraz do planeta. Ou será que o tempo, esse fiel escudeiro, vai ser capaz de aplacar a fúria consumista e egocêntrica do mundo? É bem possível que a música que entrou pela minha janela, tenha trazido algo mais para mim. O meu ser parece impregnado com a ironia machadiana, ou quem sabe “O Desconcerto do Mundo”, que tanto preocupou Camões,  tenha se materializado neste tempo? O céu e o inferno de Dante nunca fizeram tanto sentido.
Tempo... era o que todos queriam... um pouco mais de tempo com a família, com os amigos, com os filhos, com os pais... com os amores. A eles, tudo foi negado, a eles, todas as homenagens nunca serão completas, faltará sempre a despedida, enquanto isso,  muitos arriscam a vida, colocam a do outro em risco e não se importam... afinal, precisam viver. Têm pressa de viver. Assumem para si o risco, porque os outros... ah...são os outros. 
Caro leitor, eu avisei que o vento trouxe algo mais, e antes que esta crônica ficasse muito mórbida, “Uma flor nasceu na rua, é feia, mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”. E aqui estou, mais uma vez a citar Drummond, porque para ele, assim como para mim, uma apaixonada pela Literatura, pela Música, pela Arte, os dias escuros ficarão para trás. Não há como ser igual, depois que o caos se estabelece. Por certo,  seremos novamente infectados com o vírus do amor... Aos médicos e profissionais da saúde, responsáveis por tantos milagres, imensurável gratidão,  porque sempre é, e sempre será: tempo de esperançar!

                                                                                                    Maria Cristina A. Biagio

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